Pular para o conteúdo principal

Biografia da dona Geralda Eugênia da Silva - "Dona Dica"

Geralda Eugênia da Silva
            A professora Geralda Eugênia da Silva, popularmente conhecida como Dona Dica, nasceu no dia 23 de novembro de 1937, na Fazenda dos Coqueiros, em São Joaquim de Bicas – MG, filha de Joaquim Eugênio da Silva e Maria José de Jesus. Teve uma infância saudável junto aos irmãos Fausto, Iolanda, Lourdes, Rita, Maria João. Zote, Lúcia e Carmem. Desde muito cedo ajudava a mãe com as obrigações domésticas ou cuidando dos irmãos menores.
            Foi aqui em São Joaquim de Bicas que Dona Dica aprendeu os primeiros sinais gráficos, recebeu as primeiras instruções de escrita e leitura. Foi aqui que ela recebeu, como uma sementinha, a missão de educadora que iria lhe acompanhar por toda a vida. Continuou seus estudos em Betim, Itabira e Belo Horizonte.
            Em 1957 foi convidada pelo Sr. Antônio Gabriel de Resende para lecionar nesta escola que na época trazia a nomenclatura de “Escolas Isoladas Pedro Bambirra”. Iniciava-se uma carreira de inteira dedicação à Escola. Para assumir a função, Dona Dica fez o curso preparatório, exigido na época, na cidade de Mateus Leme e o exame de “suficiência”. Posteriormente concluiu seus estudos na Fazenda do Rosário em Ibirité.
            A escola construída no início da década de 50 possuía apenas uma sala, o pátio e, ao lado, a “Casa do Professor”, com dois quartos e uma cozinha; era taqueada e o teto forrado de madeira. A residência do professor era um ambiente aconchegante, mas não foi usada, pois os primeiros professores, inclusive Dona Dica, moravam nas proximidades. A casa passou a ser usada para fazer merenda. Tempos difíceis! A Escola não possuía água e precisava ser retirada de cisternas na casa dos vizinhos ou do Córrego Carioca, distante uns quinhentos metros, tarefa muitas vezes desempenhada até pelos professores. No período de matrícula, Dona Dica e demais professores faziam o trajeto de fazenda em fazenda cadastrando as crianças e muitas vezes, com seu jeito carinhoso, era preciso muita habilidade para convencer um fazendeiro da importância de mandar os filhos para serem alfabetizados.
            Em 29 de julho de 1961, Geralda Eugênia casou-se com Pedro Alberto da Silva, horticultor na região, com quem teve dois filhos: Marcos e Márcio.
            Em 1969, a Escola foi reformada transformando a “casa do professor” em mais uma sala de aula e recebeu o nome de “escolas Combinadas de São Joaquim de Bicas” e Geralda Eugênia passou a ser coordenadora. Empenhada em erradicar o analfabetismo implantou o curso MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização de Adultos) e os “Cursos de Admissão”, no horário noturno com o uso de lampião, pois não tinha luz elétrica. Com o crescente número de crianças matriculadas as salas eram insuficientes, mas nenhuma criança foi impedida de estudar. A coordenadora dividiu as salas com madeirite. Mas ainda foi preciso recorrer À ajuda da comunidade. Algumas turmas passaram a funcionar em anexos: numa casa velha e ampla cedida pelos irmãos de dona Dica ou em um pequeno cômodo (que já servira como estábulo) cedido pelo seu primo e ate na Vila Vicentina e Salão Paroquial.
            As dificuldades eram muitas! Mas o dinamismo da coordenadora era tanto que sempre encontrava solução e não desanimava. Mantinha um relacionamento maternal com os demais professores, cedendo, por muitos anos, sua casa para hospedar os professores que moravam distante. Preocupada com a qualidade de ensino, com a ajuda dos professores organizava auditórios abertos à comunidade, desfiles cívicos, visitas monitoradas à indústrias e fazendas e até eleição da professora padrão.
            Criou o Clube de Leitura “Olavo Bilac” e o pelotão de saúde “Carlos Chagas”, cujo objetivo, além de pequenos curativos, era ministrar palestras com orientações sobre saúde.
            Em 1976 a Escola foi ampliada, recebeu o nome de “Escola Estadual de São Joaquim de Bicas” e, algum tempo depois, Dona Dica tornou-se a primeira diretora, conseguindo que em 1980 fosse implantada a primeira turma de 5ª série, realizando assim os anseios de tantos pais que precisavam levar os filhos para continuar os estudos em outro município. A professora Geralda Eugênia da Silva aposentou-se em 1983 e ampliando os horizontes de cidadã passou a dedicar-se inteiramente ao trabalho voluntário na comunidade de São Joaquim de Bicas: visitas a famílias carentes, assistência ao asilo da Vila Vicentina, “sopão” na Creche São Tarcísio, líder de instituições religiosas, organização de festas tradicionais, integrava o Conselho Administrativo da Paróquia desde sua criação em 1973.
            Acompanhava muito de perto as atividades desta Escola. Apesar de aposentada estava sempre presente em auditórios, gincanas, feiras culturais e momentos de confraternização. Em setembro de 1996, Dona Dica foi homenageada pelos alunos da primeira turma do curso de magistério na realização da “Semana Pedagógica Geralda Eugênia da Silva”.
            Como cidadã participou ativamente de todo o processo de emancipação do município, concretizado em 1995. Compôs a mesa julgadora no concurso realizado para a escolha da bandeira do município. Em 2001 foi nomeada pelo prefeito municipal como membro efetivo do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural e em julho de 2002 a Câmara Municipal, em sessão solene, concedeu-lhe o título de “Honra ao Mérito” pelos trabalhos desenvolvidos na comunidade, em especial na área de educação. Grande professora! Com sua fé inabalável foi exemplo de profissionalismo, cidadania, fidelidade a Deus e à família. Tinha sempre uma palavra de incentivo, conforto e carinho para todos. Faleceu no dia 21 de junho de 2007, deixando-nos a história da mulher forte, mãe, educadora, religiosa e cidadã.
Texto:  Professora Neuza Maria de Almeida Batista

Comentários

  1. Seria bastante interessante bombar o blog com todas a fotos possíveis tiradas na escola,desde o passado.
    Com certeza a escola tem varias fotos disponíveis.

    ResponderExcluir
  2. Amor e agradecimento por esta homenagem ♡��

    ResponderExcluir
  3. Alguns "profissionais" sem noção e sem solidariedade com a os colegas, voltam ao trabalho sem receber salário integral,por acaso voltamos à época da escravidão? Trabalhem direitinho para ganhar uma estrelinha de pelego, falou?

    ResponderExcluir
  4. Neuza Maria de Almeida Batista,a melhor professora que pude ter.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Fotos antigas da escola.

 1953  1953 - 7 de setembro. Acervo: Geralda Correa, Projeto "Retratos & Histórias".

Consciência Negra

Novembro é mês de celebrar a cultura afro-brasileira. Mês de refletir sobre o racismo. Mês de valorizar a diversidade. E o 3º turno da Escola Estadual Professora Geralda Eugênia da Silva brilhou. Todos os professores envolvidos no projeto e todos os alunos estão de parabéns!! Turma 81 plantando uma camélia - flor símbolo da abolição